O nome e, sobretudo, a imagem de José Celso Martinez (1937-2023), correu feito um pé de vento o País de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Sua morte em consequências de um incêndio em seu apartamento, na cidade de São Paulo, o qual dividia com seu marido, o ator Marcelo Drummond, e mais dois amigos.
Zé Celso, todos ‘sabem’ agora, foi o mentor, o criador do Teatro Oficina na década de 1960, que dentre outros papeis, foi ponto de resistência à ditadura militar (1964-1985), local onde nasceram artisticamente pelo menos três gerações de atores do mais alto gabarito.
O prédio onde funciona o Teatro Oficina é uma obra da arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992) e que há 40 anos é o pivô de uma disputa judicial entre Zé Celso e o apresentador televisivo Silvio Santos. O sonho do diretor de teatro era de não apenas ganhar a questão, como também construir uma praça, ‘já que no bairro do Bexiga não há praças’ costumava dizer.
Esse texto pretendia tão somente falar de Zé Celso, mas na tarde desta segunda-feira, 10 de julho, faleceu o piauiense Celso Barros Coelho (1922-2023). Só depois que escrevi o nome de ambos nesse texto foi que me dei conta de que a palavra CELSO é uma intersecção entre ambos.
Esta palavra significa “elevado, nobre e indica uma pessoa que, quando não se deixa dominar pelo orgulho, adquire muito conhecimento e o utiliza para o bem de toda a comunidade”. Como podemos constatar, ambos os ‘Celsos’ fizeram jus ao nome.
O nosso, piauiense, falava latim, grego, francês e espanhol. Formou-se em 1953 pela Faculdade de Direito do Piauí, foi professor na Universidade Federal do Piauí (UFPI), seis vezes presidente da OAB-PI, entre 1962 e 1974, membro da APL (Academia Piauiense de Letras), Foi o maior jurista do Estado do Piauí.
Mas em nossa opinião, o que unia José Celso Martinez e Celso Barros Coelho, além do nome, era que em ambos os homens pulsava o conceito Nietzscheano de ‘Gaia Ciência’. Para Friedrich Nietzsche (1844-1900) “O intelecto da maioria das pessoas é uma máquina pesada, sombria e rangente, difícil de pôr em movimento. Gaia Ciência é o oposto disso. É o saber alegre, o que conhecimento que ri”.
Perdemos dois Celsos, dois adeptos da Gaia Ciência. Dois homens inteligentes, comprometidos com a humanidade, com o conhecimento, com o pensamento, com a vida. Que seus exemplos, suas vidas, seus conhecimentos, porém, continuem , amorosamente, a nos contaminar.
Encerremos esse breve texto (pois breve é a vida!) com a frase do eu lírico Oswaldiano em “O Rei da Vela”, tantas vezes repetida por Zé Celso: “Eu sou uma forma vitoriosa do tempo”. E é.
ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor. Autor, dentre outros livros, de “Debaixo da Figueira de Meu Avô”. Escreve às quintas-feiras para esta coluna.