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Ouçamos os mestres

Durante um de meus cursos na UFPI (Universidade Federal do Piauí) tive a honra e o prazer de conversar com inúmeros escritores e escritoras piauienses. Um deles foi Francisco Miguel de Moura (*), do qual ganhei um livro autografado.

 

Viria a me encontrar com ele anos depois, por acaso, durante uma edição do Salão do Livro do Piauí, SALIP. Me reaprensentei, estava com minha esposa, ele com a dele. Foi uma apresentação de quatro mãos e muito prazer para aqui a para acolá. Por coincidência eu acabara de retirar um livro dele da prateleira e já ia ao caixa pagar. Ele achou interessante a coincidência, rimos e ele autografou exemplar para mim.

Reproduzo, em seguida, um poema dele e um trecho de um pronunciamento seu na APL –Academia Piauiense de Letras. Viva Chico Miguel de Moura!

PRIMEIRO

Muitos anos depois tento alcançar
o que perdi em tantas horas tardas
e é impossível de recuperar-se.
A manhã era clara e o sol batia,
espalmado, em meu quarto, pelos olhos.
Fora, um jumento bufava de cansaço,
a ladeira descendo no serviço
de levar leite à lerda freguesia.
(Eles não pensam que o jerico existe,
é porque dormem mornos, enfastiados
das festas e banquetes e conquistas.)
Da natureza, o` pobre renegados!…
Só meus olhos e planos não repousam:
– Procuram borboletas pelos prados.

‘Começo com uma definição: “A poesia é a palavra que se faz pássaro para voar e cantar”. A frase é de um grande poeta brasileiro, Anderson Braga Horta.

Mas a definição só se tornará visível, humanamente, se se disser, como ele disse, no seu recente livro “Do que é feito o poeta”, que acabo de ler. Ele mora em Brasília.

O poeta, hoje e aqui, nesta solenidade sou eu, Francisco Miguel de Moura, um menino que nasceu nas catingas do Jenipapeiro e depois de andar, por vários lugares acompanhando seu pai e a família, paira novamente no Jenipapeiro. E ali se torna balconista de uma loja de tecidos e faz muitos poemas românticos – como era de esperar-se de um quase menino, embora leitor apaixonado de Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias, Castro Alves, entre outros. Um dia ele escreve um poeminha no papel de embrulho de tecidos da loja, ali no balcão, conversando com os amigos. Depois, mostrou a seu amigo maior, Sebastião Nobre Guimarães’. (Chico Miguel de Moura)
(Discurso pronunciado por Francisco Miguel de Moura, no Auditório da Academia Piauiense de Letras, no lançamento do livro “Poesia in Completa”, no dia 12 de novembro de 2016).

(*)(1933). Quinto e Atual Ocupante da Cadeira nº 8 da APL.Poeta, ensaísta, cronista, cronista, romancista, jornalista e crítico literário. Nasceu no lugar Jenipapeiro, Picos, Estado do Piauí, hoje Francisco Santos, em 1933. Bacharel em Literatura Plena e Letras. Pós-graduação em Crítica de Arte pela Universidade Federal da Bahia.

ERNÂNI GETIRANA (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor. Pertence às academias APLA e ALVAL. Possui alguns livros publicados, dentre eles “Debaixo da Figueira do Meu Avô” (à venda na livraria ENTRELIVROS, da Dom Severino, Teresina). Escreve sempre às quintas-feiras para esta coluna.

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