De uns meses para cá, sobretudo nos grupos de whats app começaram a crescer vertiginosamente o número de postagens (sempre estrondosas, anônimas e compartilhadas) sobre OVNIs (Objetos Voadores Não Identificados). ‘Alguém em algum lugar havia visto algo ou alguma coisa muito esquisita no céu’, ou algo similar. Convenhamos, essas histórias de vez em quando se avolumam em quantidade e variação de relatos padronizados: um clarão, uma luz, uma coisa no céu. E quando as fotos aparecem são sempre borradas, desfocadas, etc.,etc..
Bem, não vamos aqui discutir o ‘achismo’ das pessoas. Todo mundo é livre para achar o que quiser do que quer que seja. Discutamos a coisa do ponto de vista da ciência. A ciência não diz nada sobre nada. Através de seu método, o método científico, observa, anota, compara, procura descobrir padrões, faz cálculos e só então faz predições. E se os cálculos corresponderem à realidade (à Natureza), dentro da ‘margem de erro’, isso se torna uma hipótese confirmada, que se for robusta o suficiente torna-se uma Lei e poderá chegar a se tornar uma teoria que será escrutinada intensamente por todos os ângulos e enquanto se mantiver de pé, continuará servindo a seu propósito.
Mas bastará que um experimento bem executado, testado e avaliado por comissões de cientistas mostre um furo na teoria para ela exibir seu limite e isso abrir caminho para uma nova teoria mais totalizante. Um dos melhores exemplos disso são a Teoria da Gravitação de Newton e a Teoria da Relatividade de Einstein. Em pouca gravidade e baixas velocidades, Newton tem razão, mas em grande gravidade e altíssimas velocidades Einstein é que estará com a razão. Dentro de um buraco negro, porém, a teoria de Einstein não funciona mais.
Pois bem, em 1961 o astrofísico e matemático estadunidense Franke Donald Drake (1930-2022), fundador do campo científico engajado na busca por inteligência extraterrestre (Seti), criou uma fórmula capaz de calcular o número de civilizações inteligentes na nossa galáxia, a Via Láctea (que possui cerca de 400 bilhões de estrelas). Eis a fórmula: N = R* x fp x ne x fl x fi x fc x L, sendo que:
N = O número de civilizações na Via Láctea com as quais poderíamos estabelecer contato
R * = A taxa de formação de estrelas em nossa galáxia
fp = A fração de estrelas com sistemas planetários
ne = O número de planetas, por sistema estelar, com um ambiente adequado para a vida
fl = A fração de planetas adequados em que a vida realmente possa se desenvolver
fi = A fração de planetas que desenvolvem vida inteligente
fc = A fração de planetas com vida inteligente e que têm o desejo e os meios necessários para estabelecer comunicação
L = O tempo esperado de vida de tal civilização
Assim, de acordo com Drake, os valores para cada parte da equação seriam os seguintes:
R* – estimado em 7/ano
fp – estimado em 0,5
ne – estimado em 2
fl – estimado em 0,33
fi – estimado em 0,01
fc – estimado em 0,01
L – estimado como sendo 10.000 ano
Desse modo, o cálculo ficaria da seguinte maneira: N = 7 × 0,5 × 2 × 0.33 × 0,01 × 0,01 × 10 000 = 2,31 (ou seja, cerca de 2,31 civilizações inteligentes existiriam na Via Láctea além da Terra). (*)
De lá para cá, muita coisa mudou, os estudos cosmológicos evoluíram muito. A tecnologia deu passos gigantescos (telescópios como o Hubble, o James Webb, sondas espaciais e satélites de última geração colheram montanhas de dados sobre o universo). Por isso, outros cientistas, ‘incluindo Carl Sagan (1934-1996), fizeram seus próprios cálculos, chegando a resultados mais otimistas de mil ou até 1 milhão de civilizações aguardando que a evolução de nossa tecnologia nos permita fazer contato’ (Forbes).
Há contudo um dado geralmente negligenciado pelos caçadores de disco voador: grosso modo as luzes que eles veem são fenômenos atmosféricos, relâmpagos, fogo de Santelmo, asteroides. Ou, também, são instrumentos fabricados pelo homem: balões meteorológicos, sondas estratosféricas, satélites. Para se ter uma ideia a NASA (Agência Nacional para Aeronáutica e Espaço), calculou que há cerca de 130 milhões de fragmentos de satélites ao redor do nosso planeta e outros 30 mil em boas condições e ainda funcionando. Quando iluminados pelo sol ou quando adentram à atmosfera e são incinerados tudo isso brilha que é uma beleza.
Então, sem querermos ser ‘desmancha prazer’ de ninguém, temos o dever por questão de honestidade intelectual, de fornecer ao menos um parâmetro (é isso que a equação de Drake é) para os que andam ávidos por vida em outras estrelas.
Em um assunto tão complexo como este, o achismo é a pior companhia. Ciência, estudo, dados, análises são as melhores, sempre.
(*) dados tirados de Forbes.
Ernâni Getirana (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor (e astrônomo amador nas horas vagas). É autor de alguns livros, dentre estes “Debaixo da Figueira de Meu Avô” e “Lendas da Cidade de Pedro II” (à venda na livraria Entrelivros, Teresina PI). Escreve para esta coluna sempre às quintas-feiras.