34.8 C
Teresina
segunda-feira, setembro 30, 2024
Dengue
InícioCulturaEste ano não vai ser igual àquele que passou...

Este ano não vai ser igual àquele que passou…

E não porque ainda estejamos em meio a um rescaldo da pandemia por Covid19, mas sim porque o carnaval está ficando ‘impulável’. Claro que há honrosas exceções: Pernambuco é uma delas. Lá o frevo, o maractu e as marchinhas carnavalescas ainda têm espaço e vão passando de geração em geração sob o cantar esperançoso do ‘Galo da Madrugada’, dos ‘blocos de sujos’ e outras formas (inteligentes) de resistência cultural.

 

Mas o Piauí (que já perdeu o Bumba-Meu-Boi pro Maranhão e quase ia perdendo a Cajuína para a Coca-Cola), bem, o Piauí vai de mal a pior no que diz respeito ao carnaval.

Desafio o leitor a zapear o que as TVs piauienses transmitiram (pouco, sim) do que rolou de ‘dancinha’ de carnaval e verá que somos uns irresponsáveis de papel carbono esculpido em Carrara.

A essa altura já devem estar me chamando de saudosista (espero que fiquem nessa palavra). Está certo, visto a fantasia, ou melhor, a carapuça. Mas vou muito além disso. E está na hora de mostrar o que realmente me preocupa nas próximas edições carnavalescas. A continuar assim daqui a alguns anos ninguém conseguirá ‘pular o carnaval’. Explico.

Mesmo o povo novo (e o povo novíssimo), depois de meia hora de contorcionismo espasmódico (é a expressão mais límpida que encontro) já bota a língua meia légua pra fora da goela e aí pega mal pra fazer uma selfie. O cansaço é notório. E por que isso acontece? Porque as bandas executam uma mistureba tão apressada que os foliões não conseguem acompanhar por mais de meia hora, ora.

E olha que grande parte dos jovens foliões faz academia (de exercícios físicos) de três a cinco vezes por semana. Os próprios cantores/cantoras, notoriamente esbaforidos, dão paradinhas estratégicas, param de berrar, descem do palco e socam o microfone na cara do primeiro folião que aparecer. Tudo isso para poder tomar um arzinho pelo nariz.

Cada um(a) dança como quer! Dirão os impacientes. A isso eu diria ‘está bem’, se isso fosse verdade. Se não houvesse um violento e covarde lobby da indústria do entretenimento que não saciada de despejar durante o ano inteiro toneladas de ‘dejetos musicais’ intensifica, aliada à indústria de cerveja, seus ataques aos desavisados e ‘felizes’ foliões que, quais robôs teleguiados, reproduzem milimetricamente os espasmos dançantes.

Disse que apenas Pernambuco resiste heroicamente ao ‘lixo carnavalesco’, mas me equivoquei. Há sempre bolsões de resistência e de inteligência aqui e ali. Em diversas cidades do interior, e mesmo na capital piauiense, grupelhos de foliões curtiram os dias de Momo com intensa alegria e respeito aos limites de seus co(r)pos ao sabor de “Oh, Jardinheira, por que estás tão triste?”, “Me dá um dinheiro aí”, “ Você pensa que cachaça é água” e de outras delícias para além de coisas monocórdias, machistas, de péssimo gosto musical e com letras detratoras. Puxemos cordão, pois, com os blocos de resistência cultural e, quem sabe, ano que vem possamos entoar “Esse ano não vai ser igual àquele que passou …”.

Ernâni Getirana (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor. Autor de inúmeros livros, dentre eles “Lendas da Cidade de Pedro II” com apresentação do prof. Romero Lima. É proprietário do Espaço Cultural ‘Toca das Lendas’. Escreve às quintas-feiras para esta coluna.

Comentários

Redação
Redaçãohttps://newspiaui.com
PIAUÍ NO NOSSO CORAÇÃO!
VEJA TAMBÉM
- CET -spot_img
- PROCAMPUS -spot_img

MAIS POPULARES

SEBRAE - PI