Faz três ou quatro dias que escrevi a Elon Musk o seguinte e-mail: “Prezado senhor Musk, quero ser um dos primeiros humanos a ir para Marte em um desses foguetes que o senhor está construindo. Lavo banheiro, ponho gente para dormir, varro a nave de cabo a rabo. Depois que a Nasa revelou que no planeta vermelho tem opala (opala, imagine!), eu tomei essa decisão. Cordialmente, eu”.

Aviso que não se trata do modelo de automóvel ‘opala’ da Chevrolet dos anos 1970, sucesso de vendas no Brasil. Trata-se da ‘gema opala’, formada por sílica hidrogenada e cristais de cristobalita (SiO2).

Nascido no município piauiense de Pedro II, 195 km de Teresina, a ‘Capital da Opala’, infelizmente nunca possuí uma dessas beldades de ao menos alguns gramas para chamar de minha. Até agora. Porque ‘daqui pra frente tudo vai ser diferente!’.

No meu mestrado conversei com centenas de garimpeiros, donos de garimpo, comerciantes da distinta gema, engenheiros de mina, pessoas do ramo. Estudei geologicamente, quimicamente, geograficamente, economicamente as gemas de opala. E ao final escrevi um calhamaço de mais de 300 páginas.

Mas ter uma delas minhas mesmo e vendê-la para ficar rico, neca de pitibiriba. E agora, quando já estava entregando os pontos e quase me conformando com os caraminguás da aposentadoria vindoura, após 42 anos como professor, não é que me cai no colo a notícia alvissareira de que milhões de toneladas de opala estão esperando mim em… Marte!?

A felicidade me escapa pelos olhos. Ontem mesmo já iniciei treinamento físico intenso. Pela manhã, escalei e desci 10 vezes ininterruptamente o Morro do Gritador. Depois, à tarde, atravessei a nado o açude Joana 20 vezes. Estou indo e vindo à cidade de Piripiri duas vezes ao dia. A pé! E olhem que este ainda é treinamento nível ‘leve’.

Meus amigos e amigas, Marte fica logo ali, é um pulo: 54,5 milhões de km. São apenas 687 dias de viagem! E só dá para ir lá de 18 a 18 meses. É a tal da ‘janela temporal’, que eu tiro de letra!

Depois de escrever este texto iniciarei dieta balanceada: rapadura com farinha, banana e quiabo. Carne assada na brasa com manteiga de leite, tapioca, cajuína, enfim. Se cuidar não custa nada, não é mesmo?

E se houver marciano em Marte, perguntou-me um amigo após saber de minha decisão de ir garimpar no planeta. Se houver, vou tratar de aprender o idioma local, fazer amizade com a marcianizada toda. Quem sabe eles me revelarão coisas importantes como levar uma vida boa e tranquila (mas com minhas opalinhas, que dessas eu não abro mais mão coisa nenhuma!).

Ernâni Getirana (@ernanigetirana) é professor, poeta e escritor membro da APLA e da AVAL. É autor, dentre outros livros, de “Debaixo da Figueira do Meu Avô”. Escreve às quintas-feiras para esta coluna.