Em que pesem os mal entendidos segundo os quais a conquista espacial ‘seria
dinheiro jogado fora’, e que esse dinheiro poderia ser usado para ‘acabar com
a fome no mundo’; em que pesem um monte de fake news que apelam para o
fato absurdo de que ‘a Terra não é redonda’, e o homem nunca pousou na Lua,
e por aí vai, tudo isso não resistiu ao belo lançamento efetuado na madrugada
desse 16 de novembro de 2022, após inúmeros retardos durante o ano em
curso, da nave Artemis I.
O SLS (Space Launch System) foguete com 98 metros de comprimento com
um par de propulsores de 5 segmentos e 4 motores de alimentação líquida RS-
25 partiu da plataforma LC-39B do Centro Espacial Kennedy, na Flórida,
Estados Unidos, e colocou a nave Artemis I rumo à Lua.
O projeto Artemis, da NASA, tem como missão principal testar (e coletar dados)
por 15 dias uma série de procedimentos relacionados à sobrevivência humana
no espaço, sobretudo no satélite natural do nosso Planeta. A missão leva três
manequins (dois masculinos e um feminino) exatamente para servirem de
‘cobaias’ e ‘testarem’ ausência de gravidade, efeitos da radiação, falta de
referenciais espaço-temporais, no corpo e na psique humana, etc..
Enquanto a Artemis I ruma para a Lua, aqui embaixo, realizou-se de 6 a 16 de
novembro em Sharm El Sheik, Egito, a Conferência das Partes (Conference Of
the Parties) sobre mudanças climáticas.
A conferência conta com praticamente a presença de todos o(a)s líderes
mundiais e se propõe a analisar as vulnerabilidades, capacidades e limites do
mundo por um lado, e da sociedade para se adaptar às mudanças climáticas
por outro. A base dessa conferência, além de rever a COP 26, é o Acordo de
Paris, cujas metas são: adaptação climática, mitigação dos Grupos de Estudo e
impacto climático na questão financeira.
A missão Artemis (gestada ao longo dos últimos dez anos) e a COP 27, no
meu modo de ver, são duas faces de uma mesma moeda. Uma corrobora e
ajuda a analisarmos a outra. No dia 15 próximo passado, o planeta recebeu
seu habitante humano de número 8 bilhões. Frente a esse fato inconteste, a
necessidade de rever as metas climáticas e ao mesmo tempo de apontar para
um futuro no qual a espécie humana possa vir a habitar outros planetas e luas,
são perfeitamente compatíveis. Não há antagonismos significativos entre esses
dois, digamos, projetos. Para aprofundar essa ideia, procurar por “Escala de
Kardashev” que explica o modo como civilizações inteligente se apropriam da
energia de um planeta, de sua estrela-mãe e de sua galáxia.
Ernâni Getirana é professor, poeta e escritor. É autor de vários livros, dentre
eles “Debaixo da Figueira do Meu Avô”. Escreve sempre às quintas-feiras para
esta coluna.