27.8 C
Teresina
sábado, setembro 28, 2024
Dengue
InícioCulturaCarlos Drummond de Andrade faz 120 anos

Carlos Drummond de Andrade faz 120 anos

Do ponto de vista histórico a poesia contemporânea nasceu com Baudelaire, Rimbaud e Mallarmé, por volta 1848. Aqui nascia em 1902 aquele que viria a ser considerado o maior poeta brasileiro de todos os tempos. Estamos falando de Carlos Drummond de Andrade que dia 01 de outubro próximo passado fez exatos 120 anos de poesia.

 

Sempre é bom pensar que na Semana Moderna de 1922, Drummond era um jovem de 20 anos e já iniciava seu contato duradouro com a poesia. Foi um dos primeiros poetas a fazer uma poesia deslocada do eixo romântico. Mas nem tanto, dirão meus críticos. Ok, eu também discordo de mim. Poeta, poeta mesmo que se deslocou do eixo romântico foi João Cabral de Melo Neto.

Fase por fase, Drummond percorreu as seguintes: fase gauche, fase social, fase filosófica (fase do não) e fase memorialista.

Mas por que Drummond nunca escreveu um romance? Eu diria que foi devido ao fato de ele ter se enrabichado pelo conto. Ora, como sabemos, o nosso poeta maior foi também um exímio contista. Do ponto de vista da concisão, o gênero conto está bem mais próximo ao gênero poesia do que ao gênero romance. Dois coelhos com uma só cajadada, ou dois coelhos na mesma cartola.

Durante toda a sua vida neste mundo, Drummond foi um funcionário público e isso foi certamente determinante em sua poesia: saber usar o tempo vago para poetar. Nesse ponto ele e Fernando Pessoa teriam dito um para o outro durante um café que tomaram em uma padaria de Lisboa: que nunca escrevam uma biografia de qualquer um de nós, pois nossas vidas não têm a menor graça.

Então os rapazes em questão tornaram-se grandes poetas. Drummond, concluamos, merece ter ao menos um de seus poemas citados:

Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

Ernâni Getirana, professor, poeta e escritor, autor de alguns livros, dentre eles “Debaixo da Figueira do Meu Avô’. Escreve às quintas-feiras para esta coluna.

Comentários

Redação
Redaçãohttps://newspiaui.com
PIAUÍ NO NOSSO CORAÇÃO!
VEJA TAMBÉM
- CET -spot_img
- PROCAMPUS -spot_img

MAIS POPULARES

SEBRAE - PI