O presidente Jair Bolsonaro (PL) rompeu hoje à tarde o silêncio, que durava quase dois dias, desde que foi derrotado nas urnas pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O pronunciamento de Bolsonaro ocorreu no hall de entrada do Palácio da Alvorada, a residência oficial do presidente da República, e durou 2 minutos e 3 segundos. O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, dará início à transição de governo junto ao vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB).
“As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir”, declarou o governante.
Antes de se pronunciar, ele virou para Ciro e disse: “Eles vão sentir saudade da gente, né?”. Bolsonaro não parabenizou Lula, nem citou o nome do presidente eleito.
Às 16h de hoje, completaram-se 44 horas que o resultado da eleição foi proclamado. O pronunciamento se iniciou às 16h37 —a imprensa foi convocada às 14h37 para um discurso previsto para às 15h.
A falta de pronunciamento do atual presidente serviu de munição para a continuidade dos bloqueios feitos por caminhoneiros bolsonaristas, que rejeitam o resultado da eleição e apoiam um golpe de Estado.
Entra e sai de autoridades. Antes do pronunciamento, uma série se autoridades chegou ao Palácio do Alvorada. O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL) chegou por volta das 14h10 acompanhado do ministro da Casa Civil (PP). Ambos estão entre as principais lideranças do centrão.
Na sequência, 13 ministros foram até o Alvorada. A lista inclui nomes como Paulo Guedes (Economia), Anderson Torres (Justiça) e Marcelo Queiroga (Saúde) Pouco antes dos ministros de Bolsonaro chegarem, Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido de Bolsonaro, deixou o local. Ele também está entre os principais nomes do centrão.
Além deles, foram ao Alvorada o assessor Filipe Martins e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Reuniões e suspense. O salão do Palácio do Planalto estava preparado desde o começo da manhã desta segunda-feira para um pronunciamento do presidente. Mas até que a manifestação ocorresse, uma série de reuniões foi realizada para que o presidente definisse qual resposta daria à derrota.
As primeiras ocorreram na residência oficial da Presidência, o Palácio do Alvorada. Filho do presidente, o senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ) chegou às 7h35. Na sequência, houve um encontro com o candidato a vice na chapa de Bolsonaro, o general Braga Netto (PL), que entrou no Alvorada às 9h04. Meia hora depois um comboio de quatro carros levou o presidente para o Palácio do Planalto.
No novo local e outros personagens surgiram. O deputado Ricardo Barros (PP-PR) apareceu no final da manhã, subiu e saiu sem falar com a imprensa. O senador eleito Magno Malta (PL-ES) chegou num Porsche e entrou sem dar entrevista.
No começo da tarde, foi realizada mais uma reunião. Como publicou a colunista Carla Araújo, participaram os ministros próximos a Bolsonaro como Ciro Nogueira (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Célio Faria (Secretaria de Governo). O encontro ajudou a decidir o tom a ser usado.
Na sequência, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio foi convocado a comparecer no Planalto por volta das 15 horas. Isto ocorreu quando o resultado das eleições havia sido proclamado havia quase 20 horas e o presidente continuava em silêncio.
Silêncio recorde. Antes de Bolsonaro, nunca um candidato derrotado no segundo turno de uma corrida presidencial terminou o domingo das eleições sem falar à população brasileira. Ele ficou em silêncio desde as 19h57 de ontem, hora em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi proclamado vencedor.
A postura do presidente contraria a informação inicial da Secom (Secretaria Especial de Comunicação) de que Bolsonaro se manifestaria ao final da apuração. Quando Lula assumiu a liderança, foi comunicado que ele talvez se manifestasse. Mas as 22h03, as luzes do Palácio do Alvorada foram apagados e ficou claro que não haveria pronunciamento à população.
Na noite de domingo, o isolamento voluntário de Bolsonaro chegou ao nível de não receber nem mesmo ministros. Os que foram até seu encontro, como Adolfo Sachsida, das Minas e Energia, ouviram a resposta de que o presidente estava dormindo.
Aliados de Bolsonaro reconheceram derrota. Enquanto o presidente não se pronuncia a respeito da eleição, alguns aliados mais próximos fizeram posts nas redes sociais reconhecendo a vitória de Lula.
Escolhida pelo presidente para o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) fez uma publicação no Instagram admitindo a derrota.
“Perdemos uma eleição, mas não perdemos o amor pelo país. Bolsonaro deixará a Presidência da República em janeiro de cabeça erguida”.
O senador eleito Sergio Moro (União-PR) também reconheceu a derrota. Ele foi aos debates com Bolsonaro no segundo turno e assumiu posição contrária a Lula.
“A democracia é assim. O resultado de uma eleição não pode superar o dever de responsabilidade que temos com o Brasil.”
Bolsonarista das mais engajadas, a deputada federal Carla Zambelli também admitiu a derrota. Ela prometeu uma oposição ferrenha aos governos petista. “E lhes prometo, serei a maior oposição que Lula jamais imaginou ter”.
Enquanto Bolsonaro ficou em silêncio, caminheiros fecharam estradas. O silêncio do presidente ocorre em meio a uma série de protestos de caminheiros pelo país. De acordo um balanço divulgado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) na manhã desta segunda-feira, há 70 bloqueios registrados no país. Eles acontecem em 11 estados e no Distrito Federal.
- Rio Grande no Sul;
- Santa Catarina;
- Paraná;
- Minas Gerais;
- São Paulo;
- Rio de Janeiro;
- Mato Grosso;
- Mato Grosso do Sul;
- Rondônia;
- Pará;
- Goiás;
- Distrito Federal.
As manifestações começaram logo depois da proclamação do resultado da eleição. Vídeo nas redes sociais mostram os protestos em diversas partes do país.
Fonte: UOL