Dia 12 de outubro, ontem, quarta-feira, foi comemorado, como sabemos, o ‘Dia da Criança’. Tal comemoração se dá em cerca de cem países ao redor do mundo. Em vários outros países a data é comemorada em 1 de Junho. No caso brasileiro, a data foi instituída pelo deputado Galdino do Valle Filho, em 1924, durante o governo Artur Bernardo (1922 – 1926), na fase de nossa História conhecida como “Primeira República”.
Por muitas décadas a data passou a brancas nuvens, mas a partir de 1960 a empresa de produtos de limpeza pessoal infantil Johson&Johnson juntamente com a empresa de brinquedos Estrela, ao realizarem a ‘Semana do Bebê Robusto’, conseguiram mexer com o lado emocional de pais, professores, pessoas em geral. Estava mercadologicamente instituída a data.
Um canal de TV famoso já se apoderou do mote e criou um programa de ajuda a crianças carentes, tendo como contraponto investimento em sua própria imagem midiática e isenção de impostos. Escolas em todo o território nacional comemoram com seus alunos e alunas a data, não propriamente no dia, nas no dia seguinte, uma vez que 12 de outubro é também o ‘dia da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida’.
A situação da infância no Brasil, contudo, não é nada auspiciosa. Antes, ao contrário, de acordo com dados da UNICEF (órgão das Nações Unidas para a Infância e Adolescência). Com uma população de 210,1 milhões de pessoas, o Brasil possui 53,7 milhões de menores de 18 anos (IBGE, 2019). Mais da metade deles de origem afrodescendente e 820 mil ameríndios.
“A violência contra crianças e adolescentes é um problema grave, que precisa ser cada vez mais discutido por nossa sociedade. São vítimas dentro de suas próprias casas enquanto são pequenas e sofrem com a violência nas ruas quando chegam à pré-adolescência. O Poder Público precisa encarar a questão com seriedade e evitar que mais vidas sejam perdidas a cada ano”, diz Samira Bueno, diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
No ‘Dia da Criança’, evidentemente que devemos comemorar modicamente com nossos filhos, sobrinhos, netos. Porém, como cidadãos, não podemos cobrir os olhos à situação da infância no País como um todo. Afinal de contas, criança precisa mesmo é de presente. O futuro será melhor quanto mais assertivo for o presente que cidadãos, autoridades e governos pudermos construir em parceria com os diversos estames sociais populares.
Ernâni Getirana é professor, poeta e escritor. É autor, dentre outros livros, de “Debaixo da Figueira do Meu Avô”. Escreve às quintas-feiras para esta coluna.