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Quando o abraço fala mais

Desde o começo da noite de sexta-feira, dia 9 de setembro, tenho procurado uma palavra de conforto para dizer à minha tia Cícera, irmã de meu pai.

Na sexta-feira da semana passada, ela perdeu inesperadamente seu filho caçula. Mais uma vez, a espada do destino atravessava impiedosamente o seu coração.

Há dez anos, ela perdeu um dos filhos mais novos, nosso primo-irmão Dedé, que faleceu também precocemente, vítima de parada cardíaca.

Na ocasião, minha tia enfrentava aquela tormenta depois de perder o marido tragicamente em um acidente automobilístico, em 30 de maio de 1993.

Novo golpe

Ainda com essa chaga aberta no peito, ela recebia, na semana passada, aos 80 anos, outro duro e profundo golpe no mesmo lugar – o coração, sempre tão acolhedor e tão generoso.

Seu filho mais novo, Valmir, falecia aos 49 anos, em consequência de uma violenta reação alérgica.

Ele saíra de casa pela manhã, cheio de vida, alegria e projetos, e viajou a Teresina para participar de compromissos políticos.

No retorno, à noite, a tristeza chegou na frente, cobrindo de luto o seu lar, nossa família, a cidade inteira e toda a sua grande legião de amigos.

Água Branca, a nossa aldeia, ficou em choque e não lembra de uma notícia mais triste. Nem de uma despedida mais comovida e comovente.

Sua vida foi interrompida quando ele muito ainda podia oferecer à terra natal.

Estreava na política como o vereador mais votado e mantinha boas relações em todas as camadas sociais.

Também transitava no meio político com desenvoltura e tinha, portanto, um futuro político alvissareiro pela frente.

Mas o destino, com seu desígnio insondável e imponderável, quis escrever o restante da história de meu primo de outro modo.

Liderança

Lá atrás, com a morte do pai, ele assumiu a liderança da família, mesmo sendo o mais novo. Os irmãos seguiam sua orientação sem contestação.

Nesse clima de harmonia e colaboração, deram continuidade ao empreendimento instalado pelo pai, a Lanchonete O Sales – parada obrigatória de quem viaja pela BR-343 e passa por Água Branca.

Difícil um filho ser tão bom para a mãe quanto ele. Para mim, que tanto bem quero à minha tia, este era o traço mais admirável da personalidade de meu primo que se foi.

Fé e esperança

Como eu dizia no começo, procurei e não encontrei uma palavra de consolação para minha tia.

À falta dessa palavra, fui visitá-la no dia seguinte à partida de seu amado filho, e o que não pude dizer-lhe com palavra expressei em um abraço.

O poeta Mário Quintana ensinava, afinal, que “Abraçar é dizer com as mãos o que a boca não consegue, porque nem sempre existe palavra para dizer tudo”.

Bem, o novo capítulo da história de nosso primo passa a ser escrito no plano espiritual.

Agora é ditado pelo Senhor da Vida. Como cristãos, nada temos a contestar. Nem a temer.

Resta-nos apenas clamar a Deus para que nos fortaleça e nos guie neste vale de lágrimas.

E que, por mais dura que seja a provação deste momento, que seja ainda maior a nossa fé e a nossa esperança na nova vida do Valmir!

Assim seja!

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