A PF (Polícia Federal) cumpriu nesta 3ª feira (23.ago.2022) mandados de busca e apreensão contra 8 empresários por determinação do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. Os alvos da operação são investigados por trocarem mensagens nas quais falam que um “golpe” seria melhor do que um novo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os empresários indicaram que preferem o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Leia a lista de empresários que são alvos de operação da PF:
Afrânio Barreira Filho, 65, dono do Coco Bambu;
Ivan Wrobel, dono da W3 Engenharia;
José Isaac Peres, 82, fundador da rede de shoppings Multiplan;
José Koury, dono do Barra World Shopping;
Luciano Hang, 59, fundador e dono da Havan;
Luiz André Tissot, presidente do Grupo Sierra;
Marco Aurélio Raymundo, conhecido como Morongo, dono da Mormaii;
Meyer Joseph Nigri, fundador da Tecnisa.
Os mandados foram cumpridos em Fortaleza (CE), Rio de Janeiro (RJ), Brusque (SC), Balneário Camboriú (SC), Gramado (RS), Garopaba (SC) e São Paulo (SP). Do total dos mandados, 3 foram cumpridos em imóveis de Hang, em Santa Catarina.
As informações sobre as mensagens no grupo de WhatsApp de empresários foram publicadas pelo portal Metrópoles, de Brasília. Embora as conversas entre os participantes do grupo contenham a palavra “golpe”, não há nos diálogos indícios objetivos de que haveria uma operação orgânica para derrubar o governo nem como isso de fato poderia ser feito.
Eis o que cada um dos empresários escreveram no grupo em 31 de julho, segundo o portal:
Morongo: “O 7 de Setembro está sendo programado para unir o povo e o exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o exército está. Estrategia top e o palco será o Rio a cidade ícone brasileira no exterior [sic]. Vai deixar muito claro”;
Ivan Wrobel: “Exatamente isso!”;
José Koury: “Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”;
Afrânio Barreira Filho: Envia uma figurinha com o sinal positivo para a mensagem de Koury.
Marco Aurélio Raymundo (conhecido como Morongo): “Golpe foi soltar o presidiário!!! Golpe é o ‘supremo’ agir fora da constituição! Golpe é a velha mídia só falar merda”;
Luiz André Tissot: “O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo, 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais”;
José Isaac Peres: “Lula só ganha se houver fraude grossa!”;
Ivan Wrobel: “Quero ver se o STE [sic] tem coragem de fraudar as eleições após um desfile militar na Av. Atlântica com as tropas aplaudidas pelo público.”.
Outras mensagens também são citadas pela reportagem do Metrópoles. Eis mensagem de 17 de maio:
Morongo: “Se for vencedor o lado que defendemos, o sangue das vítimas se tornam [sic] sangue de heróis! A espécie humana SEMPRE foi muito violenta. Os ‘bonzinhos’ sempre foram dominados… É uma utopia pensar que sempre as coisas se resolvem ‘na boa’. Queremos todos a paz, a harmonia e mãos dadas num mesmo objetivo… masssss [sic] quando o mínimo das regras que nos foram impostas são chutadas para escanteio, aí passa a valer sem a mediação de um juiz. Uma pena, mas somente o tempo nos dirá se voltamos a jogar o jogo justo ou [se] vai valer pontapé no saco e dedo no olho”.
31 de maio:
José Koury: “Alguém aqui no grupo deu uma ótima ideia, mas temos que ver se não é proibido. Dar um bônus em dinheiro ou um prêmio legal pra todos os funcionários das nossas empresas”;
Morongo: “Acho que seria compra de votos… complicado”.
8 de agosto:
Meyer Joseph Nigri encaminha textos com a mensagem “Leitura obrigatória” e “O STF será o responsável por uma guerra civil no Brasil.”;
José Isaac Peres: “Bolsonaro está muito à frente. Mas quase todas as pesquisas são manipuladas. É só olhar as ruas por onde os candidatos passam. Essas estatísticas servem para confirmar os resultados secretos das urnas indultáveis [sic].O TSE é uma costela do Supremo, que tem 10 ministros petistas. Bolsonaro ganha nos votos, mas pode perder nas urnas. Até agora, milhões de votos anulados nas últimas eleições correm em segredo de Justiça. Não houve explicação”;
O caso foi levado ao STF por duas ações: a 1ª por Associações e entidades que fazem parte da Coalizão em Defesa do Sistema Eleitoral, na última 4ª feira (17.ago), e a 2ª pelos deputados Alencar Santana (PT-SP), Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Reginaldo Lopes (PT-MG), no dia seguinte.
Outros lados
O Poder360 entrou em contato com os empresários nesta 3ª feira (23.ago), mas ainda não obteve resposta. O espaço segue aberto.
Procurada pelo Poder360, a W3 Engenharia afirmou que Ivan Wrobel não estava na empresa e que não poderia responder por ele. Disse também que não tem setor para atendimento da mídia.
Em 18 de agosto, o jornal digital falou com alguns dos envolvidos. Em nota, Luciano Hang afirmou que seu nome é envolvido “em toda polêmica possível”, mesmo que ele não tenha “nada a ver” com as questões noticiadas.
“Em momento nenhum falei sobre os Poderes. Inclusive, quase nunca me manifesto nesse grupo. Sou pela democracia, liberdade, ordem e progresso”, diz a nota da assessoria da Havan. Leia a íntegra ao final dessa reportagem.
Já Afrânio Barreira Filho afirma que “nunca” se manifestou “a favor de qualquer conduta que não seja institucional e democrática”. Ele diz ainda, em nota, que rompimento do processo democrático não corresponde ao seu pensamento.
“Participo de vários grupos com colegas e amigos que tratam de diversos assuntos, e, às vezes, de política. Com frequência me manifesto com reações em “emoticon” a alguma mensagem, sem necessariamente estar endossando seu teor, ou ter lido todo o seu conteúdo.” Leia a íntegra ao final dessa reportagem.
Eis a íntegra da nota da assessoria da Havan, de Luciano Hang:
“Vejo que meu nome vende jornal e gera cliques. Me envolvem em toda polêmica possível, mesmo eu não tendo nada a ver com a história. Em momento nenhum falei sobre os Poderes. Inclusive, quase nunca me manifesto nesse grupo. Sou pela democracia, liberdade, ordem e progresso.”
Eis a íntegra da nota de Afrânio Barreira Filho:
“Desconheço qual seria o teor desse “apoio” no grupo de Whatsapp “Empresários & Política”. Nunca me manifestei a favor de qualquer conduta que não seja institucional e democrática.
“Fico surpreso com a alegação de que eu seria um apoiador de qualquer tipo de rompimento com o processo democrático, pois isso não corresponde com o meu pensamento e posicionamento.
“A democracia é a chave para construção de um Brasil melhor, valorizo, e muito, a oportunidade de conseguir votar e escolher os representantes de nosso povo brasileiro, e todo cidadão deveria ter a consciência da importância deste momento. Valorizo e sempre defenderei um processo eleitoral honesto e justo.
“A autonomia e separação de cada um dos três poderes é essencial para construção de uma sociedade com liberdade.
Apoio e defendo que as instituições que representam cada um dos poderes sejam fortes e íntegras, atuando sempre, cada uma delas, dentro das regras da nossa Constituição Federal de 88.
“Participo de vários grupos com colegas e amigos que tratam de diversos assuntos, e, às vezes, de política.
“Com frequência me manifesto com reações em “emoticon” a alguma mensagem, sem necessariamente estar endossando seu teor, ou ter lido todo o seu conteúdo.
“São centenas de grupos, milhares de mensagens e publicações para serem lidas e respondidas todos os dias.
“Dito isto, ratifico que meu apoio é pelo processo eleitoral que começou neste mês de agosto.
“Por fim, informo que não tenho contato com integrantes do Governo Federal, ou mesmo com o presidente, para qualquer tipo de pauta política, não sou político, sou um empresário e cidadão.
“Cordial saudações.
“Afrânio”
Ao portal Metrópoles, também em 18 de agosto, José Koury afirmou que não defende um golpe de Estado. Disse que, talvez, preferira vivenciar um golpe do que ver o PT voltando a presidência da República, o que representaria, segundo ele, um retrocesso econômico para o Brasil. “Vivemos numa democracia e posso manifestar minha opinião com toda liberdade”, disse a nota.
Já Morongo, da Mormaii, disse ao Metrópoles que “não apoiou, não apoia e não apoiará” qualquer ato ilegítimo, ilegal ou violento. “Destaco que uso de figuras de linguagem que não representam a conotação sugerida”, disse.
O empresário Meyer Nigri, da Tecnisa, afirmou que o fato de ter “repassado algum WhatsApp” não significa que ele falou ou concordou com isso. “Estou deixando claro que não afirmei nada disso”.
Afrânio Barreira, do Coco Bambu, disse que “nunca” se manifestou “a favor de qualquer conduta que não seja institucional e democrática. Fico surpreso com a alegação de que eu seria um apoiador de qualquer tipo de rompimento com o processo democrático, pois isso não corresponde com o meu pensamento e posicionamento”.
Ao Metrópoles, a assessoria de imprensa do grupo Multiplan disse que empresário José Isaac Péres está viajando. Por essa razão, não responderia aos questionamentos de forma direta. Já a assessoria do Grupo Sierra informou que o empresário André Tissot também está viajando e, por isso, não responderia de forma imediata.
Os empresários Carlos Molina, Luciano Hang e Vitor Odisio não retornaram o contato do Metrópoles.
Fonte: Poder360