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Os Pereira Brothers

Pedro II ainda não tem um, digamos, ‘livro oficial’ no qual sua História esteja contada. Mas Pituíba tinha bem nítido em sua mente de como tudo tinha se passado por estas bandas. Para Pituíba os Pereira Brothers tinham chegado por aqui na maior pindaíba. Rasgados, esfarrapados, com os pés cheios de bolhas, piolho em tudo o que era de cabelo, até nos das partes pudicas, escorbuto e todos eles putos da vida.

O velho Pituíba, inclusive, pregava que ‘os meninos’ (os chamava assim) deveriam ter chegado pelas bandas da Serra dos Matões e de cima da serra olharam para baixo e, afastando os cabelos empiolhados e aprumando a vista, devem ter visto um belo verde em forma de retângulo e por quê? Aí Pituíba era certeiro: Porque o retângulo verde era delimitado pelos quatro olhos d’água: Pirapora, Bananeira, Pimenta e Buritizinho.

A essa altura da história Pituíba dizia que os Pereira Brothers não poderiam ter chegado pelas bandas do que viria a ser o município de Pedro II sozinhos. Mas nunca que os quatro teriam tido a mínima chance de chegarem vivos após percorrerem mais de 280 léguas, como parece ter sido o caso.

Se apareceram pelas bandas de Pedro II é porque vieram com uma penca de negros e certamente de índios, capitães do mato armados para controlar os negros e índios. E estamos conversados, dizia Pituíba. Isso explicaria nos primeiros nomes do município. ‘Matões’ porque chegaram pela região que seria batizada de ‘Serra dos Matões’. Itamaraty, palavra de origem Tupy que significa ‘rio das pedras pequenas’. Pequizeiro, devido aos pés de pequi abundantes na região, claro, comida de negros e índios. E de brancos que não quisessem morrer de fome, embora no começo isso possa ter provocado imensas caganeiras. E Pituíba saía rolando de rir.

Uma vez, para se ter uma ideia, Pituíba foi convidado a dar uma entrevista a um jornalista da Rádio Pioneira de Teresina que viera a Pedro II fazer uma reportagem sobre as riquezas do município. Uma reportagem grande que também ganhou página dupla do Jornal O Dia, que acabava de ser criado na capital a 1 de fevereiro de 1951. Aquilo não era um livro sobre a História deste município, mas certamente bem que poderia ser um bom esboço para um.

Infelizmente Pituíba não viveu para ler a tal reportagem que foi publicada a 11 de agosto daquele ano de 1951. Ah, sim, Pituíba era a alcunha de João Pedro Ramalho de Carvalho Pinto, um advogado que havia aberto mão da advocacia e passara a viver recluso em uma caverna nas proximidades do Morro do Gritador, embrulhado em molambos e dizendo que não queria mais saber de bicho humano, só dos bichos da natureza. Tinha aberto mão um pouquinho do estilo de vida que escolhera, tomado bom banho, penteado o cabelo, aceito algumas roupas do doutor juiz de direito só para poder contar aquela história ao mundo. O próprio juiz fora até na furna dele convencer-lhe a contar a história e foi assim que a coisa toda foi contada para o jornalista numa longa conversa que se estendeu por dois dias. (Capítulo 7 do livro “Debaixo da Figueira do Meu Avô).

Ernâni Getirana é professor, poeta e escritor. É autor, dentre outros, do livro “Debaixo da Figueira do Meu Avô”. Escreve para esta coluna às quintas-feiras.

 

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