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Análise sintática: Para que serve?(I)

Uma das torturas dos estudantes pelo menos até a década de 1970 era ter que responder as intermináveis listas de ‘análise sintática’ caprichosamente trazidas pel(a)o professor(a) de português. Hoje, como professor, continuo tendo o maior cuidado ao abordar esse assunto em minhas aulas com alunos do Fundamental Maior. Evito bancar o ‘torturador’ e opto por discutir a lógica linguística que serpenteia a análise sintática. Ao tentar explicar o assunto, aprendendo mais e mais. E tenho um mantra: “em todos os concursos que vocês forem fazer pela vida, aparecerá análise sintática”. Vamos, pois a ela.

A gramática normativa (que é a ensinada na escola) está dividida, grosso modo, em: fonética (estuda os sons da fala em seus aspectos físicos) e fonologia (estuda os fonemas, sons que compõem as palavras), morfologia (estuda a estrutura, formação e classificação das palavras) e sintaxe (estuda a estrutura formal da frase, as combinações entre as palavras que carregam sentido). Além disso, os livros de gramática de língua portuguesa desde os anos 1970 trazem uma introdução à noção de ‘comunicação’. Dito isso, caberia uma pergunta. Como explicar o fato comprovado de que mesmo pessoas analfabetas são capazes de fazer uso lógico da língua-mãe, fazendo-se entender e serem entendidas?

Os teóricos da comunicação nos dizem que isso acontece devido ao fato de haver uma ‘gramática socialmente internalizada’ no cérebro dos usuários e usuárias da língua, uma vez que, ao nascer, as pessoas estão expostas à sonoridade/sentido daquela língua, de que não podem fugir. Mesmo um bebê com limitações no aparelho sensório (ouvidos/olhos) ‘compreende’ a massa de significação emanada de gestos, expressões faciais, táteis, etc., daqueles e daquelas que o cercam. Estão todos o tempo todo imersos na cultura.

Na maioria das vezes ao conversarmos com as pessoas, nossa principal preocupação é compreender o que certo grupo de palavras que ouvimos significa. Interessa-nos muito mais compreender o grupo do que as palavras individualmente. Podemos chamar essas palavras devidamente organizadas e que carregam sentido de ‘oração’. Toda oração possui um coração, o verbo. É em torno dessa classe de palavra, o verbo, que outros dois termos se organizam: o sujeito (ser de quem se diz algo) e o predicado (aquilo que se diz do sujeito): Maria/estuda Física. Há, contudo, orações que simplesmente não possuem sujeito. Ex: Ontem choveu muito forte. Há também, casos em que sujeito e predicado não se organizam em torno de um verbo. Toda regra tem exceções, afinal.

Quando estudante do antigo ginásio, eu me perguntava para que serviria estudar análise sintática além de para fazer concursos. Pois agora acho que sei. Serve para organizarmos melhor as ideias sobre as quais queremos falar ou escrever. Serve para nos comunicarmos melhor, com mais clareza. E longe de mim insinuar que pessoas que não conheçam análise sintática não consigam se comunicar bem.

A análise sintática trabalha com a língua formal, aquela usada na comunicação institucional, nos documentos, nas falas públicas. Já a língua informal, do dia a dia, está presente nas conversas familiares e amigáveis. O ideal é que sejamos poliglotas, que saibamos usar o registro formal e informal da língua em cada situação de comunicação.

Por fim, ensino de Língua Portuguesa após dois anos de ausência física tanto de professores quanto de alunos, requer um meticuloso trabalho em duas vertentes que se conjugam. De um lado, leitura de texto, escritura de texto. Do outro, a compreensão lógica de como os textos (verbais e não verbais) se organizam e tornam o mundo minimamente inteligível nos cérebros humanos. A análise sintática pode servir de liga juntamente com sua coirmã, a análise semântica.

Ernâni Getirana, é professor, poeta e escritor. Autor, dentre outros livros, de “Debaixo da Figueira do Meu Avô. Escreve para esta coluna às quintas-feiras.

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