Ele nasceu na velha Paissandu, de tantas histórias, na casa dos pais. Chegou ao mundo, naquele distante 22 de fevereiro de 1932, como o quinto dos 13 filhos do casal que veio das lonjuras do Oriente Médio. Seus pais eram um sírio e uma libanesa que se conheceram por acaso, longe, muito longe, de seu berço natal.
O menino teve uma infância normal para as crianças de seu tempo, vivendo entre os pequenos afazeres domésticos e as brincadeiras. Era um garoto esperto e curioso. Quando entrou para o ensino regular, já estava alfabetizado. Já sabia ler, escrever e contar.
Naquele tempo, a criança só podia entrar para a escola primária com 7 anos de idade. Ele contava os dias de ir para a escola e, quando fez os 7 anos, no começo do período letivo, foi se matricular sozinho no Grupo Escolar Barão de Gurgueia, na Praça Saraiva.
Quando retornou para casa, entregou o documento da matrícula para a mãe, dona Amélia Sady:
– Mamãe, já me matriculei na escola. Tá aqui a relação de livros, farda, modelo de farda e tudo mais.
A mãe espantou-se:
– Menino, você é mesmo impossível!
-Pois é, mamãe, desta vez eu fui fazer uma coisa boa!
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Daí para frente, o menino arguto que nasceu e viveu a infância e a juventude na Paissandu não parou de estudar e se fez um homem que sempre deu motivos de orgulho à sua terra.
Aos 17 anos, quando precisou deixar a acanhada Teresina, em busca de novos conhecimentos e horizontes, foi para São Paulo. Lá se entregou aos estudos com tanta dedicação que foi distinguido com o prêmio de honra ao mérito como o melhor aluno do curso de Contabilidade (Ensino Médio).
E por que optou pelo Curso Técnico de Contabilidade, ao invés do Curso Científico que frequentava no Colégio Rio Branco? Porque sua ideia era ajudar o pai, Elias João Tajra, um dos prósperos comerciantes da cidade.
De volta para Teresina, passou sem vexames no vestibular da Faculdade de Direito da Velha “Salamanca” e, antes de concluir o curso, estava aprovado para o cargo de auditor fiscal da Receita Federal.
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O mais de sua história é do conhecimento de muitos: jornalista, professor, presidente do Flamengo Esporte Clube, levando o time à sua fase de glórias no Futebol Piauiense; deputado estadual e diretor da Rádio Pioneira de Teresina por 20 anos, colocando a emissora no pódio como a de maior audiência do Piauí, com penetração em todo o Nordeste.
Ainda na política foi três vezes suplente de senador – caso único na história política do Piauí; prefeito de Teresina; secretário do Trabalho e deputado federal em dois mandatos, um deles como constituinte. E saiu da política quando ainda tinha muita energia para prosseguir na luta.
No meio da caminhada, pediu demissão de um dos melhores empregos da República, conquistado através de concurso público e no qual já contava com 20 anos de serviço efetivo, para se lançar aos sonhos e aos desafios de empreendedor que estavam em seu sangue e em sua alma. E nessa nova missão realizou muito, contando mais tarde com a colaboração dos filhos que, ao lado da esposa, Maria Amélia, soube tão bem preparar para a vida e para os negócios.
O Dr. Jesus Tajra, personagem central desta crônica, um homem vitorioso, é um dos grandes do Piauí e seria grande em qualquer lugar. Mas preferiu crescer entre os seus.
Hoje ele faz 90 anos, lúcido, saudável e ativo, com muitas e sábias lições para todos nós. É um aniversário que será comemorado pela família e pelos amigos à distância, espiritualmente, por causa dos tempos pandêmicos que impõem o afastamento social.
Mas a data deve ser celebrada também, com a mesma devoção e a mesma alegria, por todos os piauienses que valorizam o sucesso e as pessoas de bem. Estou entre estes. Feliz aniversário, Dr. Jesus!
Por Zózimo Tavares