A efeméride pelos cem anos da Semana de Arte Moderna, ocorrida em São Paulo nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922 (quando a Proclamação da República fazia cem anos de existência), prova apenas que a semana continua influenciando nos dias de hoje o panorama da arte brasileira, suscitando debates por vezes apaixonados de parte a parte.
Figuras como as de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Manuel Bandeira, dentre outras, já de há muito fazem parte dos compêndios escolares (uma tentativa de ‘enquadrá-las?). Talvez, mas significa também a aceitação por parte do establishment do legado daqueles jovens intempestuosos.
Agora, quando se mergulha mais profundamente na ‘semana’, podemos perceber as múltiplas dicotomias, as disputas, o assanhamento dos egos dos modernistas (afinal eram todos humanos). A ida do escritor Ruy Castro ao programa Roda Viva, da TV Cultura, no dia 7 de fevereiro próximo passado, atirando para tudo que é lado e minimizando o papel da Semana de 22 provocou entre os debatedores (e depois nas redes sociais) uma avalanche de protestos e posicionamentos dissonantes.
No fim das contas, o que importa é a pergunta fulcral: mas, afinal o que queriam os modernistas brasileiros de 1922? E a resposta de pronto é ‘renovação artística da arte brasileira. Eles não aceitavam o rigor formal, acadêmico, nas artes, e, por isso, queriam ‘bagunçar o coreto”. Quando atualmente se faz arte por aí a fora, boa parte dela bebe na fonte modernista, mesmo que seus praticantes não o saibam.
Para falar do próprio quintal, eis aqui exemplos de produções de artistas de Pedro II, ‘herdeiros’ dos modernistas. Jornaleco (editado por nós, nos 2000-2004), Pomba da paz em azul (Jackson Cristiano), Mulheres redeiras (J. batista), Ciclo da Vida (B. da Cruz), Zé do Caixão, de José de Arimatéa.
Ernâni Getirana é professor, poeta e escritor. Escreve às quintas-feiras nesta coluna. É autor, dentre outros, do livro ‘Debaixo da Figueira do Meu Avô’.