A frase acima tem autoria e pedigree, ela é de ninguém menos, ninguém mais do que Milton Hatoum, um dos mais profícuos escritores de prosa da atualidade no Brasil e, como ele mesmo diz, “alguém que já ameaçou a humanidade com um livro de poesia escrito quando muito jovem”.
Ontem, 1 de Dezembro, participei juntamente com a professora Fernanda Michelle da mesa (via live) “Poesia Contemporânea: do erudito à poesia marginal”, na XIV Semana de Letras da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), campus de Timon.
Enquanto a professora apresentou um histórico da Poesia Contemporânea, a mim coube abordar três ou quatro coisas que achei relevantes apresentar acerca do tema.
A Poesia Contemporânea pode ser vista sob dois aspectos. Ela é ao mesmo tempo a poesia contemporânea ao tempo em que foi feita, no passado; assim como é a poesia que se faz no momento de agora. Filosoficamente, podemos atrelar o surgimento do conceito de contemporâneo a Immanuel Kant (1724-1804) que disse que todos deveríamos parar de ser tutelados por quem quer que seja. Nascia, assim, o conceito de sujeito moderno. Um eu que quer se expressar como tal.
Pois bem, Foucault ao fazer um arco dessa ideia kantiana, a aprofunda ao ligá-la a uma ideia de Baudeleaire (1821-1867) segundo a qual “O homem moderno não é aquele que parte à descoberta de si mesmo, de seus segredos e de sua verdade oculta, que busca inventar-se a si mesmo. Esta modernidade não libera o homem em seu ser próprio, ela o restringe à tarefa de se elaborar a si mesma”.
Um terceiro ponto para ajudar na compreensão da gênese da Poesia Contemporânea deve-se a Giorgio Agamben para quem “em arte/poesia a forma é já parte do sentido”. A poesia concreta que o diga.
Para arrematar, mas não para encerrar a discussão, por acontecer exatamente agora, no momento em que é feita, a poesia contemporânea (como está nos compêndios de literatura!) só poderá ser melhor analisada num futuro, quando não for mais tão contemporânea assim.
E, se como diz Harold Bloom, o texto literário é um labirinto da influência de autores sobre outros autores, saberemos, nesse suposto futuro, que autores sobreviveram à sua contemporaneidade. Mas, afinal, não tem sido assim mesmo em outras eras literárias para essa tal ‘imensa minoria’?
Ernâni Getirana é professor, poeta e escritor, autor (dentre outros) de “Debaixo da Figueira do Meu Avô”. @ernanigetirana @getiranaDe
Link da live: https://www.youtube.com/watch?v=6soPicDyHhM