Após 15 horas de julgamento no Tribunal do Júri de Niterói (RJ), os filhos da ex-deputada Flordelis Flávio dos Santos Rodrigues e Lucas Cézar dos Santos de Souza foram condenados no início da manhã desta quarta (24) por envolvimento no assassinato do pastor Anderson do Carmo, em junho de 2019.
Flávio, acusado de efetuar os disparos que mataram o pastor, foi condenado a 33 anos e dois meses de prisão por homicídio, porte ilegal de arma de fogo, uso de documento falso e associação criminosa. Já Lucas, acusado de ter comprado a arma usada no crime, foi condenado a sete anos e seis meses de prisão por homicídio.
Durante a longa sessão, foram ouvidas oito testemunhas e Lucas, além das alegações do Ministério Público e de dois defensores públicos que representam os filhos de Flordelis. Flávio preferiu se manter em silêncio.
Como houve um desmembramento, a ex-deputada e outros oito réus estão sendo julgados em outro processo.
Flordelis está presa desde o dia 13 de agosto, após perder o mandato. Os advogados que representam Flordelis acompanharam a sessão. Rodrigo Faucz, que faz parte de sua defesa, afirmou que nada do que se debatesse ali poderia envolver sua cliente, que, segundo ele, é inocente. “Estamos aguardando os recursos ao STJ, para que se faça justiça”, afirmou. As menções a Flordelis, no entanto, foram constantes ao longo do dia.
O pai de Anderson, Jorge Souza, também acompanhou a sessão. “Quero justiça. Foi muita maldade, ganância. Isso aconteceu por causa de dinheiro”, afirmou.
Sobre os réus
Os sete jurados foram sorteados entre uma lista de 25 convocados.
Os dois filhos de Flordelis —que já estavam presos— chegaram algemados ao tribunal, mas a juíza Nearis dos Santos Arce, que presidiu o julgamento, permitiu que as algemas fossem retiradas minutos após o início da sessão.
Havia grande expectativa em relação ao depoimento de Flávio, que preferiu permanecer calado. Durante as investigações da polícia, ele chegou a confessar que atirou no padrasto. No ano passado, porém, voltou atrás e negou o envolvimento no crime.
Lucas, filho adotivo, é acusado de ter comprado a arma utilizada no crime. Ele afirmou que a ex-deputada teria citado a “primeira-dama e um ministro” numa carta em que pedia para que ele assumisse a autoria do crime. Em depoimento em abril deste ano na Comissão de Ética da Câmara, Flordelis negou que fosse amiga da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Lucas não especificou quem seria o “ministro” supostamente citado pela ex-deputada.
A carta, que teria sido entregue a Lucas dentro do presídio, nunca apareceu.
‘Peças manobradas’
A primeira testemunha a ser ouvida foi a delegada Bárbara Lomba, que conduziu a primeira fase das investigações. Lomba afirmou que os filhos da ex-deputada eram “peças manobradas” e que, pelos depoimentos deles, era possível perceber que “não planejaram nada sozinhos”. Lomba reforçou ainda que “houve a intenção de proteger um esquema” e que “os mais frágeis foram explorados”, ao se referir aos filhos da ex-deputada.
A delegada disse ainda que Flávio nunca citou uma ligação direta da ex-deputada no crime, “mas admitiu informalmente que pode ter sido usado por outras pessoas [próximas de Flordelis]”. Ele também relatou, segundo Lomba, um suposto abuso do pastor contra duas filhas como motivo do crime.
Ela disse ainda que uma carta escrita por Lucas Cézar, em que incriminava outras duas pessoas —Wagner Andrade Pimenta, conhecido como Misael, e Luan dos Santos—, foi redigida a pedido de Flordelis. O próprio Lucas já havia admitido em depoimento, em dezembro do ano passado, que o conteúdo da carta era falso.
O segundo depoimento foi do delegado Allan Duarte, titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá, que assumiu as investigações após Bárbara Lomba deixar o caso. Ele também citou Flordelis ao afirmar que, de acordo com as investigações, a ex-deputada teria sido a responsável pela compra da arma utilizada no crime.
“Aqui não tem luto”
Misael deu o terceiro depoimento do dia. Também filho de Flordelis, ele afirmou por mais de uma vez que a ex-deputada foi a mandante do assassinato do marido. Em encontro após o crime, Flordelis teria afirmado que “aqui não tem luto”, ao se referir a uma possível tristeza diante da morte de Anderson.
O filho de Flordelis, assim como sua mulher, Luana Rangel, quarta a depor, afirmaram que ela teria escrito num papel que jogou o celular de Anderson no mar após a morte dele.
Fonte: Folhapress