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Brasil ultrapassa a marca de 500 mil mortos por covid-19

O Brasil registrou, neste sábado (18), 2.301 mortes por covid-19 e 82.288 novos casos diagnosticados, de acordo com os dados enviados pelos estados ao Ministério da Saúde e ao Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde). Com isso, o país superou a marca dos 500 mil mortos por covid-19. O Brasil contabiliza agora 500.800 óbitos e 17.883.750 pessoas que já foram diagnosticadas com a doença.

Desde janeiro, quando a primeira pessoa foi vacinada, até o momento, apenas 11,5% da população recebeu as duas doses do imunizante contra a doença, o que corresponde a 24.426.291 pessoas, segundo dados do Ministério da Saúde. Com a primeira dose são 63.302.237 vacinados (29,89%).

Considerando a população acima de 18 anos (160 milhões), a cobertura vacinal com a primeira dose é de 39,55% e com a segunda dose é de 15,2%.

O governo federal reporta ainda 16.183.849 pessoas recuperadas da Covid-19 e 1.199.101 pacientes em acompanhamento.

O ministro da Saúde Marcelo Queiroga usou as redes sociais neste sábado para lamentar os 500 mil óbitos no Brasil provocados pela pandemia da covid-19. Ele disse que trabalha para vacinar todos os brasileiros no menor tempo possível e mudar o cenário.

“500 mil vidas perdidas pela pandemia que afeta o nosso Brasil e todo o mundo”, escreveu Queiroga. “Trabalho incansavelmente para vacinar todos os brasileiros no menor tempo possível e mudar esse cenário que nos assola há mais de um ano.”

Queiroga escreveu ainda: “Presto minha solidariedade a cada pai, mãe, amigos e parentes, que perderam seus entes queridos”.

Para especialistas, a lentidão da campanha de vacinação contribuiu não apenas para o grande número de mortes, mas também para que o país se tornasse um perigo epidemiológico para o mundo, o que deixa a população ainda mais vulnerável, sem perspectiva de controle da pandemia.

egundo a pediatra Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), essa insuficiência da campanha de vacinação contra a covid-19 mantém a alta circulação do vírus e, portanto, maior possibilidade de contaminação e do surgimento de novas variantes que contribuem para o aumento de hospitalizações e mortes.

“Não podemos pensar só na falha do controle da doença em si, mas nas consequências disso para a nação como um todo. Isso dá margem para outras ondas, que gera um platô, em que continuamos sendo um perigo epidemiológico iminente para o resto do planeta. Não vamos conseguir recuperar todas as perdas em termos de desenvolvimento econômico e emprego enquanto não tivermos um controle da situação”, afirma.

Para a especialista, o Ministério da Saúde falhou em ter demorado nas negociações para a compra de vacinas. “É uma tragédia que poderia ter sido evitada com a celeridade na vacinação”, afirma. Ela cita como exemplo os Estados Unidos, que, após imunizar grande parte da população, estão doando as vacinas que sobraram.

E doses insuficientes são o que impedem que o país vacine mais de 1 milhão de pessoas por dia, como já fez na campanha de imunização contra o vírus influenza. Uma investigação realizada pela CPI Covid mostrou que o governo brasileiro ignorou, no ano passado, pelo menos 53 e-mails de ofertas da Pfizer.

“O Brasil sempre teve a expertise em vacinar. Porém, é necessário coordenação e gerenciamento, definição de diretrizes, de metas e de cobranças de resultados que venha de um PNI [Programa Nacional de Imunizações] fortalecido e que tenha apoio de todas as áreas governamentais”, afirma.

Segundo o Ministério da Saúde, 4,4 milhões de pessoas não retornaram para receber a segunda dose da vacina dentro do prazo recomendado. Em nota, a pasta também informou que enviou, até o dia 14 de maio, as doses da CoronaVac que estavam pendentes para completar o esquema de vacinação.

A aplicação da segunda dose deste imunizante chegou a ser interrompida, em grande parte das cidades após o Instituto Butantan, que produz a vacina no Brasil, enfrentar o desabastecimento dos insumos necessários, importados da China, para a fabricação da vacina.

“É importante que as informações não sejam truncadas. Se a comunicação com a população é de má qualidade e com informações controversas, a campanha de vacinação fica muito difícil, os itens comunicação e divulgação são essenciais e isso também não aconteceu”, afirma Flávia.

Além da falta de cobertura vacinal, a especialista destaca que as medidas de restrição deveriam ter sido tomadas de acordo com a epidemiologia de cada local, tendo em vista a quantidade de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) disponíveis e a capacidade de atendimento de cada região do país.

A médica também chama a atenção para o afrouxamento das medidas não farmacológicas, como o uso de máscara e distanciamento social, por parte da população. “A partir do momento que a verdade é encarar a nossa lentidão e a escassez de vacinas, não podemos de modo nenhum deixar de seguir as outras medidas de proteção”, afirma.

A especialista orienta que, enquanto não houver vacinas disponíveis para todos, o uso de máscaras ainda é necessário para evitar a transmissão do vírus.

Terceira onda
Vacinação lenta, a descoberta e a chegada de novas variantes ao país, além da alta taxa de transmissibilidade do coronavírus, ajudam a projetar a possibilidade do início de uma terceira onda da pandemia ainda este mês no Brasil. Em maio, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, já admitia preocupação com a perspectiva.

O último boletim do Observatório Covid-19 da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), aponta que é de alto risco o atual cenário do país devido ao grande número de novos casos diagnosticados, uma média de 60 mil por dia, e a manutenção de um platô elevado de transmissão do coronavírus.

Além disso, a fundação destaca que 18 estados e o Distrito Federal apresentam taxas de ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de pelo menos 80%, sendo que em oito deles a ocupação é igual ou superior a 90%. Apenas os estados do Acre e Rondônia são considerados fora da zona crítica.

Apesar do cenário, os pesquisadores da Fiocruz afirmam que ainda é cedo para dizer que o país entrou na terceira onda. “Semana após semana, cria-se a expectativa de que podemos iniciar a temida terceira onda, abandonando a ideia de que ainda temos um quadro crítico, como se [já] tivéssemos saído da segunda”, disseram.

Segundo Isaac Schrarstzhaupt, cientista de dados e coordenador da Rede Análise COVID-19, o Brasil enfrenta um momento de aumento leve de novos casos, que estava previsto com a chegada do outono, clima que potencializa as chances de doenças respiratórias, que preocupa pelo sistema de saúde já sobrecarregado.

“Os hospitais foram muito massacrados na onda anterior, não tiveram tempo de se recuperar, então esse aumento leve já é um transtorno. Não tem como prever os números [de uma nova onda], porque já vimos que o teto dessa doença é inexistente. Se deixarmos, ela sobe a números absurdos. Então, se há uma tendência de aumento de casos, já é um sinal para agir e não pagar para ver”, afirma o cientista.

Além disso, Schrarstzhaupt explica que a média de novos casos e mortes varia conforme as notificações são realizadas pela vigilância epidemiológica de cada município e que isso sofre influência direta de feriados, quando as equipes estão reduzidas, o que pode refletir em uma queda significativa dos números por até uma semana, gerando uma falsa perspectiva de que a pandemia está sob controle no país.

Segundo o cientista, uma queda sustentada e real é aquela que se mantém por pelo menos 15 dias, de maneira efetiva e forte. “Só vivemos isso em setembro de 2020, que foi um período de queda mais sustentável. Depois, aumentamos a mobilidade da população e estamos nessa situação de perigo constante”.

Ele destaca que a flexibilização das medidas de restrição que tem ocorrido no país pode levar, também, a uma falsa sensação de segurança para a população, o que favorece o aumento da mobilidade entre as pessoas e, por consequência, o aumento da transmissão do vírus, que resulta em novos casos e mortes por covid-19.

“Muitas pessoas se baseiam no que o governo está fazendo: se restringiu, quer dizer que está ruim; se liberou, é porque está bom. Mas o que estamos vendo é que não tem uma correlação direta entre as medidas e o andamento efetivo da pandemia, às vezes as flexibilizações ocorrem por pressões políticas ou econômicas”, afirma.

Ele acrescenta: “Se estou amarrado a 1,80 metros no fundo de uma piscina e alguém a enche com mais dez metros de água, estou me afogando. Se a água começa a cair para nove metros, oito metros, e a pessoa vê que está caindo e volta a enchê-la, continuo me afogando. Eu preciso que a água caia para menos que 1,80m para que eu possa respirar. O Brasil não está deixando a água chegar nesse nível nunca”, afirma.

Fonte: r7.com

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