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Sanders desiste da corrida democrata, e Biden deve enfrentar Trump na eleição presidencial

O senador Bernie Sanders, 78, anunciou nesta quarta-feira (8) que desistiu da disputa para ser o candidato democrata nas eleições presidenciais dos EUA de 2020.

A decisão veio após a realização, nesta terça (7), das primárias em Wisconsin, cujos resultados ainda não foram divulgados. No entanto, Sanders vinha de seguidas derrotas em etapas anteriores para Joe Biden, que deve ser o rival de Donald Trump na votação de novembro

Em transmissão ao vivo de Burlington, em Vermont, Sanders deixou claro que considera Biden como o nome do Partido Democrata nas eleições, mas disse que seu nome permanecerá nas cédulas de votação nos estados onde ainda haverá primárias e que seguiria angariando delegados.

A tática serve para confirmar sua mensagem e pressionar a plataforma do partido.

O senador relembrou que foi capaz de realizar uma campanha presidencial sem apoio dos “ricos e poderosos” —uma de suas bandeiras— valendo-se de 10 milhões de doações com média de US$ 18 (R$ 93) por pessoa.

Biden citou ainda uma frase do ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, a quem chamou de “grande guerreiro pela liberdade” —“Só parece impossível até que seja feito”—, para criticar o poder do establishment político e das grandes corporações, que segundo o democrata limitam os direitos humanos.

No discurso de despedida da campanha, Sanders bateu na tecla do acesso ao sistema de saúde. Segundo ele, já antes da pandemia de coronavírus os americanos vinham percebendo que é necessário adotar um modelo unificado para todos os cidadãos, em vez do atual, baseado em seguros privados.

Com a pandemia, milhões perderam seus empregos, o que significa a perda dos planos de saúde, acrescentou.

“Um grande número de desempregados se perguntam se podem pagar para ir ao médico sem ir à falência com a conta do hospital. A saúde é um direito humano, não um benefício para um empregado.”

Minutos depois do anúncio do senador, Biden se manifestou. “Conheço bem Bernie. Ele é um homem bom, um grande líder e uma das mais poderosas vozes pela mudança em nosso país. É difícil resumir as suas contribuições para a nossa política em apenas um tuíte. Então, não tentarei”, postou em uma rede social.​

“Juntos vamos derrotar Donald Trump. Mas também trataremos da crise do clima. Faremos o ensino superior acessível. E faremos o sistema de saúde disponível para todos. Não apenas reconstruiremos esta nação —vamos transformá-la. E peço a vocês que se juntem a mim”, completou o ex-vice-presidente.

Ainda faltam alguns detalhes para que o nome de Biden seja confirmado como o candidato democrata.

O ex-vice de Barack Obama acumula atualmente 1.217 delegados nas primárias do partido e precisa chegar a 1.991 para assegurar matematicamente a vitória —mas como não há mais ninguém na disputa, ele deve alcançar o número em breve.

Depois, o nome de Biden precisa ser oficialmente confirmado durante a convenção nacional democrata, marcada para agosto após ser postergada devido à atual pandemia de coronavírus.

Sanders foi o último competidor de peso a desistir em uma campanha que começou com mais de 20 nomes, ainda no ano passado.

Embora atue na política desde os anos 1980, ele apostou na imagem de nome fora do sistema, principalmente por causa de suas posições consideradas radicais nos EUA.

Sob a bandeira de redução da desigualdade social, Sanders defende que o Estado ofereça educação e saúde gratuitas para todos, aumente a taxação sobre bilionários e reforce a regulação do setor financeiro.

Sua postura teve apelo especialmente aos jovens e ganhou ecos no movimento progressista que se intensificou no Partido Democrata após as eleições legislativas de 2018, tentando levar a legenda mais para a esquerda.

Os EUA vivem uma boa fase de crescimento e de baixo desemprego —ao menos antes da chegada do coronavírus—, mas a renda das famílias não avançou da mesma forma.

Com isso, casos de pessoas que não conseguem pagar a própria casa ou enfrentam problemas graves com gastos de saúde se multiplicam. O ressentimento de quem se sente deixado para trás foi bem explorado por Trump em 2016, e havia a expectativa de que Sanders pudesse se conectar a esse público.

Para o cientista político Leandro Consentino, professor do Insper, a derrota de Sanders demonstra um certo cansaço dos eleitores com o radicalismo. “Parte do eleitorado democrata rejeitou contrapor Trump com outro ‘Trump’ do lado de cá”, avalia.

Consentino aponta também que Sanders teve dificuldade para provar a viabilidade de suas propostas e que sofreu desgaste ao disputar a posição de nome progressista do partido com a senadora Elizabeth Warren.

Logo após o anúncio de desistência do rival, Trump atribuiu a derrota a Warren. “Bernie Sanders está FORA! Obrigado a Elizabeth Warren. Se não fosse por ela, Bernie teria vencido quase todos os estados na Super Terça”, publicou o presidente americano.

“Isso termina justamente como os democratas e o DNC [Comitê Nacional Democrata] queriam, o mesmo fiasco de Hillary Trapaceira. A turma de Bernie deveria vir para o Partido Republicano. TROQUEM!”, completou.

No início das primárias, em fevereiro, o senador despontou como favorito e venceu em dois estados: New Hampshire e Nevada. Mas, na etapa seguinte, na Carolina do Sul, Biden começou a arrancada que o levou a vitória: ele venceu naquele estado apostando no voto dos eleitores negros.

Em seguida, o ex-vice de Obama foi o grande vencedor da Super Terça, em 3 de março, quando 14 estados vão às urnas ao mesmo tempo.

Sanders, no entanto, conquistou a Califórnia e mais cinco estados, o que lhe deu fôlego para seguir com a campanha enquanto outros nomes de peso, como Elizabeth Warren e Michael Bloomberg, desistiram.

Biden recebeu apoio de quase todos os desistentes importantes, como Bloomberg e Pete Buttigieg, além de governadores e prefeitos. Sanders, por sua vez, teve endosso apenas de dois ex-pré-candidatos, entre os quais o prefeito de Nova York, Bill de Blasio.

Depois da Super Terça, a disputa democrata virou um duelo entre Biden e Sanders. A campanha presidencial, no entanto, ficou em segundo plano com o avanço do coronavírus. Comícios e eventos com os candidatos foram desmarcados, e algumas primárias, adiadas.

Filho de judeus, Sanders nasceu no Brooklyn, em Nova York, em 1941. Nos anos 1960, formou-se em ciência política na Universidade de Chicago. Na cidade, ele se envolveu no movimento pelos direitos civis, que sacudiu os EUA naquela década.

Na década seguinte, tornou-se ativista contra a Guerra do Vietnã e tentou por duas vezes ser governador de Vermont, estado para o qual se mudou.

A primeira vitória eleitoral veio em 1981, quando foi eleito prefeito de Burlington. Depois, foi deputado (1991-2007) e senador (desde 2007). No Congresso, virou um símbolo por questionar guerras e cortes em programas sociais, mas emplacou poucos projetos desua autoria.

Embora não faça parte do Partido Democrata —ele é um independente—, Sanders disputou as primárias presidenciais pela legenda também em 2016. Naquela eleição, obteve o mesmo resultado e perdeu a nomeação para Hillary Clinton. No entanto, a disputa foi mais longa: ela só obteve a vitória em junho.

Um dos fatores que levaram a ex-primeira dama a vencer naquele ano foi justamente o apoio dos negros, que novamente não foram atraídos pelo discurso de Sanders.

Fonte: Folhapress
Foto: Reusters

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