Aprisionado em seu entorno político e familiar, o presidente Jair Bolsonaro está perdendo apoio no Congresso e na sociedade. Está a cada dia mais isolado. E assim, se não tomar cuidado, poderá sofrer um impeachment. A advertência é feita por um aliado fiel ao presidente, o líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP).
Olimpio diz que segmentos decisivos para a eleição de Bolsonaro em 2018, como o agronegócio, os profissionais de segurança pública e os evangélicos, representados pelas bancadas mais influentes no Congresso, estão se distanciando do presidente por insatisfação com o seu governo. Os investidores, observa ele, também não se sentem seguros em apostar no país, devido à instabilidade política criada quase sempre pelo próprio presidente e seus filhos.
“O policiais nos estados, as guardas municipais, o sistema prisional, todos esperavam mais, queriam atitudes e investimentos concretos. O distanciamento da bancada da agropecuária é bom sinal de alerta para o presidente. Outro grupo muito forte de apoiamento ao presidente, os evangélicos, já está bastante dividido. É para ligar o alerta”, defende Major Olimpio. “Quem está se isolando é o presidente”, completou.
Impeachment
Para o líder do PSL, Bolsonaro deveria escutar o panelaço feito na última quarta-feira (18) em protesto contra ele como outro alerta. O senador ressalta que o presidente não precisa incorrer em crime de responsabilidade para sofrer um processo de impeachment. Ele diz que a cassação do mandato de Dilma Rousseff, apoiada por ele e Bolsonaro em 2016, foi pelo “conjunto da obra” e não exatamente pelas pedaladas fiscais, como se sustentou à época.
“Acaba não sendo descartada solução dessa natureza [impeachment] se avançar com o volume de crises. Dentro da lei do impeachment ainda não tem requisito para provocar o impedimento do presidente. Mas isso é uma questão de interpretação”, afirma.
Apenas nos últimos três dias foram apresentados três pedidos de impeachment contra o presidente na Câmara. “Temos de ter todo cuidado do mundo para não deixar casca de banana no caminho do presidente e torcer para ele mesmo não jogar casca lá na frente onde vai andar”, destaca. O clima hoje, no entanto, é pelo não andamento dos requerimentos.
Golpe e Forças Armadas
Major Olimpio afirma que não crê na possibilidade de o presidente tentar um golpe, como receiam seus adversários políticos. Segundo ele, as Forças Armadas não compactuariam com iniciativa dessa natureza. “Não vejo a menor possibilidade disso. Bolsonaro é grande líder da população. As Forças Armadas conhecem o papel constitucional delas. Não vão avançar um milímetro em ruptura de qualquer ordem ou descumprimento da Constituição. Quem tentar fazer isso, até mesmo o presidente, vai falar sozinho.”
O líder do PSL afirma que Bolsonaro não entendeu a gravidade da pandemia, não toma os cuidados necessários para proteger a própria saúde e deveria se preocupar menos com “likes” e mais em apoiar os ministros da Economia e da Saúde. Estar com o povo, ressalta Olimpio, não é tomar a barca Rio-Niterói nem o metrô em São Paulo, como prometeu o presidente em coletiva na quarta ao minimizar mais uma vez o coronavírus. “O povo deu 57 milhões de votos para que ele fique com a saúde imune para tomar medidas para o bem dos demais. Não é para fazer live no meio do povo.”
Eduardo em quarentena
O senador dispara contra o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) pela acusação que fez contra o governo chinês de espalhar o coronavírus com interesse econômico. “Idiotice” e “imbecilidade” foram termos usados por ele para classificar a “tese alucinante” do deputado. Na opinião dele, Bolsonaro erra ao dar aos filhos políticos carta branca para agir como se fossem sua extensão.
“O presidente tem de tomar atitude, botar o filho na quarentena. Faz quarentena no celular. Manda para qualquer lugar do mundo. Dá licença, deixa o pai presidente e os seus ministros trabalharem”, diz. “Se não quer ajudar a carregar o caixão, sai de cima, não faz peso. Puta que pariu. Vai em cima e ainda fica pulando em cima? Para arrebentar as mãos de quem está carregando. Meu Deus do céu”, emendou.
Os comentários de Eduardo sobre o governo chinês provocaram uma crise diplomática entre os dois países nessa quinta-feira, com direito a pedido de desculpas por parte do Congresso. O Ministério de Relações Exteriores foi em linha oposta, cobrando que embaixador se desculpasse com o país e Bolsonaro.